Sábado, 2 de Fevereiro de 2008
Sabes Senhor, ao olhar para o que me rodeia eu fico com a impressão de que não sou digno de desfrutar das maravilhas que puseste ao meu alcance, porque Tu, tudo me dás e eu nada te agradeço.
De manhã ao levantar-me do meu leito onde descansei durante algumas horas e ainda ensonado esfrego os olhos, e através da janela do meu quarto vejo a natureza verde e viçosa, vejo os pássaros a ir para seus ninhos, levando o alimento para suas crias.
Ouço o trinar dos melros que nos galhos da arvore em frente, desafiam os rouxinóis que encantam com seu chilrear, limpo e cristalino, como as águas que brotam da fonte no sopé da serra da Nossa Senhora da Saúde.
E cheiro, cheiro os odores do campo enfeitados com flores silvestres, de um colorido tal que jamais pintor algum conseguiu transpor para a tela, e não digo: OBRIGADO SENHOR.
Não tenho tempo, tenho que tomar o meu banho à pressa e engolir o pequeno almoço. Correr para o transporte público mastigando ainda um pouco de pão, pois o adiantamento da hora assim o recomenda. E não parei, não tive uns breves segundos para agradecer a água que corre das torneiras, os alimentos que me serviram de pequeno almoço, a vontade de viver, não, não te disse OBRIGADO SENHOR.
Já no trabalho é um correr constante, são os telefones que não param de tocar, o computador que não funciona, o chefe que vem mal disposto e discute com toda a gente, a reunião que foi adiada e o negócio não se realizou, e eu Senhor absorvido que estou nesta máquina da qual sou mais uma peça de engrenagem, não paro, não penso em Ti, e por isso não penso nos milhares de desempregados, que muitas das vezes não têm pão para si e para os seus, não penso que o meu chefe pode ter tido algum problema e necessite de ajuda, que pode ter havido algum percalço com o cliente, o que originou à não realização do negócio e porque vivo a vida a correr não paro para te dizer OBRIGADO SENHOR.
Já noite chego a casa, é a altura de ligar a televisão, jantar e assistir ao telejornal para saber as desgraças por esse mundo fora, e muitas vezes Senhor nem tempo tenho para brincar como os meus filhos, porque tenho que estar informado e sempre actualizado.
E depois durmo, durmo o sono reparador que me há-de preparar para mais um dia de intensa luta que é o dia-a-dia da vida.
E não tive tempo, nas 24 horas que tu me deste, durante o dia não tive um minuto que fosse para estar contigo, para te louvar e bendizer por tudo o que fizeste por mim, para te agradecer a vida que me dás, a felicidade de ser teu filho e, de poder desfrutar do mundo que puseste ao meu dispor, não Senhor, não sou digno de ter tudo o que me dás, porque eu não digo OBRIGADO SENHOR.
Autor do texto
Jorge Manuel Castro Couto
1998
E tu? O que pensas?
Achas-te digno de desfrutares de todas as maravilhas que ele pôs ao teu alcance?