Terça-feira, 19 de Fevereiro de 2008

Amizade...

Passava do meio-dia, o cheiro de pão quente invadia aquela rua, um sol escaldante convidava a todos para um refresco..


Ricardinho não aguentou o cheiro bom do pão e falou:
- Pai, tou com fome!
- O pai, Sr. Fernando, sem ter um tostão no bolso, caminhando desde muito cedo em busca de um trabalho, olha com os olhos marejados para o filho, e pede mais um pouco de paciência...
- Mas pai, desde ontem não comemos nada, eu tou com muita fome, pai !
- Envergonhado, triste e humilhado em seu coração de pai,
Sr. Fernando pede para o filho aguardar na calçada, enquanto entra na padaria a sua frente.
Ao entrar, dirige-se a um senhor no balcão:

- Meu Senhor, estou com meu filho de apenas 6 anos aí na porta com muita fome, não tenho nenhum tostão, pois saí cedo para buscar um emprego e nada encontrei.
Eu lhe peço que, em nome de Jesus, me forneça um pão para que eu possa matar a fome desse menino. Em troca, posso varrer o chão de seu estabelecimento, lavar os pratos e copos, ou outro serviço que o Senhor precisar.

Sr. Amaro, o dono da Padaria, estranha aquele homem de semblante calmo e sofrido, pedir comida em troca de trabalho e pede para que ele chame o filho...
Sr. Fernando, pega o filho pela mão e apresenta-o ao Sr. Amaro que, imediatamente, pede que os dois sentem-se junto ao balcão, onde manda servir dois pratos de comida do famoso P.F. (prato feito): arroz, feijão, bife e ovo.
Para Ricardinho, era um sonho comer após tantas horas na rua; para o Sr. Fernando, uma dor a mais, já que comer aquela comida maravilhosa fazia-o lembrar-se da esposa e mais dois filhos que ficaram em casa apenas com um punhado de fubá.
Grossas lágrimas desciam dos seus olhos já na primeira garfada.

A satisfação de ver seu filho devorando aquele prato simples, como se fosse um manjar dos deuses e a lembrança de sua pequena família em casa, foi demais para seu coração tão cansado de mais de 2 anos de desemprego, humilhações e necessidades.
Sr. Amaro se aproxima do Sr. Fernando e, percebendo a sua emoção, brinca para relaxar:
- Oh, Maria, sua comida deve estar muito má... olha o meu amigo tá até chorando de tristeza desse bife, será que é sola de sapato...?
Imediatamente, Sr. Fernando sorri e diz que nunca comeu comida tão apetitosa, e que agradecia a Deus por ter esse prazer.
Sr. Amaro pede, então, que ele sossegue seu coração, que almoce em paz e depois conversariam sobre trabalho.
Mais confiante, Sr. Fernando enxuga as lágrimas e começa a almoçar, já que sua fome estava nas costas.
Após o almoço, Sr. Amaro convida o Sr. Fernando para uma conversa nos fundos da padaria, onde havia um pequeno escritório.
Sr. Fernando conta, então, que há mais de 2 anos havia perdido o emprego e, desde então, sem uma especialidade profissional, sem estudos, ele estava vivendo de pequenos "biscates" aqui e acolá, mas que há 2 meses não recebia nada.
Sr. Amaro resolve, então, contratar o Sr. Fernando para serviços gerais na padaria e, penalizado, faz para o homem uma cesta básica com alimentos para pelo menos 15 dias.
Sr. Fernando, com lágrimas nos olhos, agradece a confiança daquele homem e marca para o dia seguinte seu início no trabalho.
Ao chegar em casa com toda aquela "fartura", Sr. Fernando é um novo homem: sentia esperanças, sentia que sua vida iria tomar novo impulso.... Deus estava lhe abrindo mais do que uma porta, era toda uma esperança de dias melhores.
No dia seguinte, às 5h da manhã, Sr. Fernando estava na porta da padaria, ansioso para iniciar seu novo trabalho.
Sr. Amaro chega logo em seguida e sorri para aquele homem, que nem ele sabia porque estava ajudando.
Tinham a mesma idade, 32 anos, e histórias bem diferentes, mas algo dentro dele chamava-o para ajudar aquela pessoa.
E ele não se enganou: durante um ano, Sr. Fernando foi o mais dedicado trabalhador daquele estabelecimento, sempre honesto e extremamente zeloso com seus deveres.

Um dia, Sr. Amaro chama o Sr. Fernando para uma conversa e fala da escola que abriu vagas para a alfabetização de adultos, um quarteirão acima da padaria e que ele fazia questão que Sr. Fernando fosse estudar.
Sr. Fernando até hoje não consegue esquecer o primeiro dia de aula, a mão trêmula nas primeiras letras e a emoção da primeira carta...
Doze anos se passaram desde aquele primeiro dia de aula.
Vamos encontrar o Dr. Fernando Baptista de Medeiros, hoje advogado, abrindo seu escritório para seu cliente e depois outro, e depois mais outro...

Ao meio dia, ele desce para um café na padaria do amigo Amaro, que fica impressionado em ver o "antigo funcionário", tão elegante em seu primeiro terno...
Mais dez anos se passam e, agora o Dr. Fernando Baptista, já conta com uma clientela que mistura os mais necessitados - que não podem pagar - e os mais abastados, que o pagam muito bem.
Resolve criar uma Instituição que oferece aos desvalidos da sorte, que andam pelas ruas, pessoas desempregadas e carentes de todos os tipos, um prato de comida, diariamente, na hora do almoço...

Mais de 200 refeições são servidas diariamente naquele lugar, que é administrado por aquele seu filhote, que agora é o nutricionista Ricardo Baptista.
Tudo mudou, tudo passou, mas a amizade daqueles dois homens, Amaro e Fernando, impressionava a todos que conheciam um pouco da história de cada um.
Conta até que, aos 82 anos, os dois faleceram no mesmo dia, quase que a mesma hora, morrendo placidamente com um sorriso de dever cumprido.

Conta-se no céu, que o próprio Mestre Jesus veio recebê-los com um sorriso e um coro de mil anjos entoando uma música que falava da vitória dos que sabem persistir.
Ricardinho, o filho, mandou gravar na frente da "Casa do Caminho", que seu pai fundou com tanto carinho:
"Um dia, eu tive fome e você me alimentou.
Um dia, eu estava sem esperanças, e você me deu um caminho.
Um dia, acordei sozinho e você me deu Deus e, isso, não tem preço.

Que Deus habite em seu coração, alimente sua alma e te sobre o pão da misericórdia, para estender a quem precisar".


Falcão Sossegado

Publicado por Falcão Sossegado às 20:25

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Sábado, 2 de Fevereiro de 2008

Obrigado Senhor !!!

          Sabes Senhor, ao olhar para o que me rodeia eu fico com a impressão de que não sou digno de desfrutar das maravilhas que puseste ao meu alcance, porque Tu, tudo me dás e eu nada te agradeço.
          De manhã ao levantar-me do meu leito onde descansei durante algumas horas e ainda ensonado esfrego os olhos, e através da janela do meu quarto vejo a natureza verde e viçosa, vejo os pássaros a ir para seus ninhos, levando o alimento para suas crias.
          Ouço o trinar dos melros que nos galhos da arvore em frente, desafiam os rouxinóis que encantam com seu chilrear, limpo e cristalino, como as águas  que brotam da fonte no sopé da serra da Nossa Senhora da Saúde.
          E cheiro, cheiro os odores do campo enfeitados com flores silvestres, de um colorido tal que jamais pintor algum conseguiu transpor para a tela, e não digo: OBRIGADO SENHOR.
          Não tenho tempo, tenho que tomar o meu banho à pressa e engolir o pequeno almoço. Correr para o transporte público mastigando ainda um pouco de pão, pois o adiantamento da hora assim o recomenda. E não parei, não tive uns breves segundos para agradecer a água que corre das torneiras, os alimentos que me serviram de pequeno almoço, a vontade de viver, não, não te disse OBRIGADO SENHOR.
          Já no trabalho é um correr constante, são os telefones que não param de tocar, o computador que não funciona, o chefe que vem mal disposto e discute com toda a gente, a reunião que foi adiada e o negócio não se realizou, e eu Senhor absorvido que estou nesta máquina da qual sou mais uma peça de engrenagem, não paro, não penso em Ti, e por isso não penso nos milhares de desempregados, que muitas das vezes não têm pão para si e para os seus, não penso que o meu chefe pode ter tido algum problema e necessite de ajuda, que pode ter havido algum percalço com o cliente, o que originou à não realização do negócio e porque vivo a vida a correr não paro para te dizer OBRIGADO SENHOR.
          Já noite chego a casa, é a altura de ligar a televisão, jantar e assistir ao telejornal para saber as desgraças por esse mundo fora, e muitas vezes Senhor nem tempo tenho para brincar como os meus filhos, porque tenho que estar informado e sempre actualizado.
          E depois durmo, durmo o sono reparador que me há-de preparar para mais um dia de intensa luta que é o dia-a-dia da vida.
          E não tive tempo, nas 24 horas que tu me deste, durante o dia não tive um minuto que fosse para estar contigo, para te louvar e bendizer por tudo o que fizeste por mim, para te agradecer a vida que me dás, a felicidade de ser teu filho e, de poder desfrutar do mundo que puseste ao meu dispor, não Senhor, não sou digno de ter tudo o que me dás, porque eu não digo OBRIGADO SENHOR.

Autor do texto
Jorge Manuel Castro Couto
1998


E tu? O que pensas?

Achas-te digno de desfrutares de todas as maravilhas que ele pôs ao teu alcance?
Publicado por Falcão Sossegado às 00:01

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